segunda-feira, novembro 29, 2004

Lei de Gresham

"A má moeda expulsa a boa moeda"

É verdade que assim é, pelo menos assim o disse o financeiro inglês do século XVI que deu nome à dita lei.
No entanto e porque a memória nem sempre ajuda, importa lembrar a razão pela qual se disse que a má moeda afasta a boa. Rebuscando bem os sumaríssimos conhecimentos de economia política - conquistados no 1º ano da faculdade à custa de muita "borga" - a má moeda dominava o mercado monetário porque a boa era entesourada, no fundo os contemporâneos da descoberta de novos mundos guardavam as moedas de bom ouro ou prata e usavam para as “negociatas” quotidianas as de bronze ou ainda aquelas cujo ouro havia já sido coçado pelos anteriores proprietários.
Este entesouramento tinha lugar por uma simples razão: usar a boa moeda mais tarde.
Será que é esse o motivo de não usarmos a nossa boa moeda?

Qual é a nossa "prata da casa"? O insigne Economista Professor Aníbal Cavaco Silva, aquando da sua analogia, esqueceu-se que a moeda, ao contrário de nós, meros mortais, não perde qualidades com o tempo...
O que me leva à incontornável pergunta dirigida àqueles que – enquanto “prata da casa” - se pronunciaram sobre esta questão:
“- Não estarão V. Exas. com um pouco de verdete?”

Com o exposto não pretendo de forma alguma apontar o dedo à iniciativa, de facto não podia concordar mais, mas em economia, usando uma máxima económica, “Não há almoços grátis”. Vejamos então o que espera o “nosso” economista em troca deste “pequeno” serviço ao País.

E esperemos nós, (ainda que o anseie ainda mais o ilustre Professor), que o Governo “caia”, porque se não “cair” esperam-nos, seguramente, dias ainda mais difíceis.

Não me parece que o nosso melhor primeiro avance sem o apoio do partido... e não me parece que o partido o apoie depois do que foi dito.

“Não me parece”, porventura melhor será dizer, espero sinceramente que não o apoie! Imagine-se! O pragmático Professor Cavaco Silva voltar atrás com a palavra só pelo “altruísmo patriótico” de se tornar Presidente da República e o notável Pedro Santana Lopes a dobrar-se para apanhar “uma maioria e um Presidente”.
Deus me livre e guarde!
(Não da maioria e do Presidente, que essa muito me agrada, mas desta maioria com esse presidente. Criar-se-ia uma facção no partido pelas piores razões, no pior dos cenários e com um público perigosamente maior!)

Em suma, não obstante o facto de concordar com o que foi escrito, não posso deixar de me questionar quanto ao fim a que este artigo se reporta.

A terem um objectivo preventivo, estes comentários pecam não só por tardios mas também por terem sido proferidos em sede inadequada, não o sendo, então pecam por precipitação, pois tendo em conta a juventude do Governo não se deve, em consciência, catalogar um executivo de incompetente sem ter deixado ao menos passar o período de “vacatio legis”!

A presunção - ilidível claro - deveria ser de competência e não de incompetência do executivo, por mais que custe a muito boa gente, nos quais modestamente me incluo.

sexta-feira, novembro 26, 2004

"Men are created equal"

Lia, com a habitual despreocupação que caracteriza o input intelectual dispendido na leitura deste tipo de publicações, uma conhecida publicação just for women, quando me deparei com um artigo, que nada tendo de novo, ainda não é assunto a sepultar, muito pelo contrário.

Deram, para a referida publicação, o seu testemunho, algumas mulheres que ocupam cargos proeminentes em Bruxelas.

Como já vem sendo habitual as perguntas incidiram sobre as dificuldades em conciliar uma carreira profissional preenchida, em posições de responsabilidade, com a familia e a maternidade.

Algumas admitiam um certo dó de alma por não terem tempo para os filhos, outras nem sequer filhos tinham e pareciam não sentir pesar por não terem ainda "procriado", mas todas eram crentes na possibilidade de se conciliar a maternidade com uma vida profissional preenchida e todas peremptórias em afirmar que os homens continuam a ganhar mais.

Recordo-me a propósito de uma das minhas séries preferidas, aquela cujo protagonista era o inefável Archie Bunker, aquela caricatural súmula irresistivel de preconceitos , em que a filha do casal, sempre liberal, e com um marido igualmente liberal, descobre que, a final, o seu marido anda mais perto seu pai do que pensava.

Num diálogo hilariante em que o marido de Gloria lhe dizia qualquer coisa deste género"Men are created equal, not women, I believe in the equality of women but they must first acknowledge their inferiority so that we can give them equality..." ante a incredulidade de Gloria, Dave explica-lhe que a ideia é simples: as mulheres devem primeiro reconhecer-se inferiores para que lhes possa então ser"ofertada" a igualdade.

Trata-se de uma paródia mas eu acho que a solução é realmente de compromisso entre homens e mulheres, de colaboração e companheirismo.

Isto, claro está, no nosso "ideal" mundo ocidental e a uma escala necessariamente enquadrada pela democracia.

Longe da discriminação com moldura legal e convicção de obrigatoriedade junto das populações, longe do inferno dos crimes de honra e da excisão feminina.

É consideravelmente melhor a situação no século XXI, mas ainda é óbvia a desigualdade salarial, acrescida das duas horas que em média as mulheres trabalham a mais do que os homens.

E ainda os tristemente necessários 25 de Novembro, Dia Internacional da Luta contra a Violência exercida sobre as Mulheres, expressão de uma cultura machista que teima em perdurar não obstante as batalhas ganhas ao longo do séc. XX.

Não se demonizem os homens, nem se venha aqui defender que no sexismo detêm o monopólio, porque sexistas também as há no feminino.

Crie-se um Neo-feminismo, menos voltado para a culpabilização masculina, e mais propenso a estimular a cooperação entre homens e mulheres, nas tarefas domésticas, no convivio social e profissional.

Se "és de esquerda és..."

Ainda as categorizações fáceis...
Dizia-me hoje um amigo que eu não sou de esquerda.
Discutíamos animadamente mais um desaire político do executivo de Santana Lopes e ante a possibilidade, avançada por mim, de ser a esquerda a ganhar as próximas eleições legislativas, ainda que com maioria relativa, dado não ser de todo descabido tentar prever que não será com maioria absoluta, porque é este o maior partido de oposição que temos e nem com as vitórias dadas de bandeja...(mas isso é outro post!), fui acusada de falta de rigor.
Pasme-se. O Sócrates não é de esquerda e eu também não.
Ser de esquerda é ter, para alguns, um conjunto de características que, a inexistirem, impossibilitam a identificação com o ser-se "ideologicamente de esquerda".
Ainda, portanto, as categorizações fáceis...
Reza, com o desconto dado à óbvia e sugestiva aguarela, mais ou menos assim a compartimentação...
Se és de esquerda és...com certeza, estalinista, tens um poster do Fidel no quarto, só lês autores de esquerda, tens a "fashion sensitivity" de uma Odete Santos, achas que o Estado deve controlar até o que comes... e acreditas piamente que a Coreia do Norte é uma democracia.
E ainda as cumulações...
Se fores mulher e de esquerda és feminista e odeias os homens.
Se fores homem e de esquerda és feminista e odeias os homens.
Se fores hetero e de esquerda preferias ser gay.
Se te faltar alguma destas características não és de esquerda verdadeiramente, apenas uma pálida sombra...se te faltarem todas ou és um buraco negro político ou então és de direita.
Convenhamos, isto não funciona por "indices de subordinação" como a qualificação do contrato de trabalho.
Eu sou de esquerda e o Sócrates também é.

quinta-feira, novembro 25, 2004

Ordem vs Caos

Os pratos da balança cósmica (!)
De um lado o conjunto racionalmente organizado e hierarquizado, do outro uma confusão de elementos desconectos entre si.

Platão dizia que um demiurgo precisava de agir sobre o Caos para o tornar Ordem, que o Caos seria um princípio e a Ordem um fim, sendo o demiurgo uma divindade submissa a uma vontade maior do Deus Supremo, um intermediário entre este e a Criação, qual Prometeu que salva a humanidade...

Mas quem é que quer ser salvo?
Aqui ninguém quer ser salvo, aqui não se querem “as categorizações fáceis e os compartimentos estanques”.
Aqui pretende-se que exista uma complexidade e dinâmica que, embora aparentemente imprevisível, deverá ser em última análise regida por leis deterministas.
Resumindo,

Há mais ordem no Caos do que na própria Ordem
Promessa ou ilusão?

“O futuro o dirá e, em boa medida, o definirá.
Por cá andaremos.”

terça-feira, novembro 23, 2004

Ladies first...

Primeiro as senhoras, num primeiro post de um primeiro blog para aquela que escreve na primeira pessoa.
Talvez se espere demasiado de um primeiro post.
Espera-se que se façam apresentações, que se abram as hostilidades, que se apontem as guidelines de futuros posts, que se explique, afinal, quem somos e para onde vamos.
Nada disso.
Evitemos as categorizações fáceis e os compartimentos estanques.
O futuro o dirá e, em boa medida, o definirá.
Por cá andaremos.
INF