sexta-feira, novembro 26, 2004

"Men are created equal"

Lia, com a habitual despreocupação que caracteriza o input intelectual dispendido na leitura deste tipo de publicações, uma conhecida publicação just for women, quando me deparei com um artigo, que nada tendo de novo, ainda não é assunto a sepultar, muito pelo contrário.

Deram, para a referida publicação, o seu testemunho, algumas mulheres que ocupam cargos proeminentes em Bruxelas.

Como já vem sendo habitual as perguntas incidiram sobre as dificuldades em conciliar uma carreira profissional preenchida, em posições de responsabilidade, com a familia e a maternidade.

Algumas admitiam um certo dó de alma por não terem tempo para os filhos, outras nem sequer filhos tinham e pareciam não sentir pesar por não terem ainda "procriado", mas todas eram crentes na possibilidade de se conciliar a maternidade com uma vida profissional preenchida e todas peremptórias em afirmar que os homens continuam a ganhar mais.

Recordo-me a propósito de uma das minhas séries preferidas, aquela cujo protagonista era o inefável Archie Bunker, aquela caricatural súmula irresistivel de preconceitos , em que a filha do casal, sempre liberal, e com um marido igualmente liberal, descobre que, a final, o seu marido anda mais perto seu pai do que pensava.

Num diálogo hilariante em que o marido de Gloria lhe dizia qualquer coisa deste género"Men are created equal, not women, I believe in the equality of women but they must first acknowledge their inferiority so that we can give them equality..." ante a incredulidade de Gloria, Dave explica-lhe que a ideia é simples: as mulheres devem primeiro reconhecer-se inferiores para que lhes possa então ser"ofertada" a igualdade.

Trata-se de uma paródia mas eu acho que a solução é realmente de compromisso entre homens e mulheres, de colaboração e companheirismo.

Isto, claro está, no nosso "ideal" mundo ocidental e a uma escala necessariamente enquadrada pela democracia.

Longe da discriminação com moldura legal e convicção de obrigatoriedade junto das populações, longe do inferno dos crimes de honra e da excisão feminina.

É consideravelmente melhor a situação no século XXI, mas ainda é óbvia a desigualdade salarial, acrescida das duas horas que em média as mulheres trabalham a mais do que os homens.

E ainda os tristemente necessários 25 de Novembro, Dia Internacional da Luta contra a Violência exercida sobre as Mulheres, expressão de uma cultura machista que teima em perdurar não obstante as batalhas ganhas ao longo do séc. XX.

Não se demonizem os homens, nem se venha aqui defender que no sexismo detêm o monopólio, porque sexistas também as há no feminino.

Crie-se um Neo-feminismo, menos voltado para a culpabilização masculina, e mais propenso a estimular a cooperação entre homens e mulheres, nas tarefas domésticas, no convivio social e profissional.